Hello, black people! Hoje vamos falar sobre as origens do funk carioca, uma black music brasileira com influência da música americana dos anos 70 e 80.
O que é o funk carioca?
É impossível viver hoje sem nunca ter ouvido uma música sequer do funk carioca, ainda que sem querer. O funk carioca é um estilo que nasceu nas favelas do Rio de Janeiro de maneira mais identitária com o que temos hoje a partir dos anos 1990, sendo um dos ritmos mais populares do Brasil e mais exportados para fora também.
De onde veio o funk carioca?
Para explicar a origem do funk carioca, vamos primeiro traçar uma linha do tempo dos bailes que aconteciam nas favelas do Brasil, em especial as do Rio de Janeiro. Na década de 1970, mesmo durante o período mais repressivo da ditadura militar, já existiam os chamados bailes funk. Mas peraí, bailes funk mesmo sem o funk carioca ter surgido? Exatamente, acontece que esses bailes (onde a turma do famoso furacão 2000 iniciou sua atuação, inclusive), como eram realizados em favelas, era composto quase que integralmente por negros que dançavam as black musics populares dos anos 1970, como o soul, o black, o shaft e, claro, o funk estadunidense, daí o nome baile funk.
Já pro final da década de 1970 os bailes funk perderam força por causa de um movimento que se tornou febre no mundo todo, a disco music, que pode muitas vezes ser analisada como uma versão pop de soul e funk, mais dançante e mais eletrônica por assim dizer. Foi nessa época que um dos personagens mais populares do funk carioca foi construindo suas referências a partir do programa “Cidade Disco Club”, um dos pioneiros do funk carioca, o DJ Marlboro.
A década de 1980 e a referência maior
A partir da década de 1980 os bailes funk renasceram influenciados por um ritmo que uma década depois viria a inspirar de vez a criação do funk carioca, os chamados Miami Bass. Os Miami Bass traziam a base do que era o funk carioca dos anos 1990, com uma letra mais voltada para o erotismo e batidas mais rápidas.
No ano de 1986, ao ganhar uma bateria eletrônica, o DJ Marlboro começou a lançar sons referenciados no Miami Bass e na música de 1982 que, segundo ele, foi a maior influência de todas para o surgimento do funk carioca, a música Planet Rock de Afrika Bambaataa e Soulsonic Force, uma música que misturava o funk e o soul com batidas eletrônicas alemãs.
Os anos 1990 e a consolidação do funk carioca
É na década de 1990 que o funk carioca surge de maneira mais autoral. Ainda sob a base dos Miami Bass, o funk carioca começou com letras de exaltação à cultura negra e o dia a dia das favelas. Com isso, o ritmo se popularizou cada vez mais e os bailes funk voltaram com tudo. Com toda a popularização, veio também o preconceito das classes mais altas que, seguindo o mesmo caminho que percorreu o samba em sua origem, atribuíram ao funk o caráter marginalizado, criminoso.
Foi também nessa época que o grupo Furacão 2000 se popularizou trazendo as novidades do funk, dessa vez não apenas no Rio de Janeiro mas já em caráter nacional, apresentando artistas que mais tarde ficaram conhecidos como pioneiros do funk carioca, como Claudinho & Bochecha.
O funk nos anos 2000
A partir dos anos 2000 o funk já estava consolidado como produto. Aceito pela mídia por fornecer bastante audiência, o funk se mostrava mais parecido com o rap americano do que com o funk e soul, e o ritmo começava a despontar no exterior, quando finalmente no verão de 2005 foi uma das grandes sensações da temporada de férias da Europa.
É necessário destacar que foi nos anos 2000 que surgiu uma das cantoras mais importantes do funk carioca, a Tati Quebra-Barraco, que foi inclusive um objeto de documentário estrangeiro sobre o gênero, com suas letras que imprimiam resistência feminina à dominação masculina do funk. Em setembro de 2009, foi aprovado um projeto que definia o funk como movimento cultural e musical de caráter popular do Rio de Janeiro, de autoria dos deputados Wagner Montes e Marcelo Freixo.
Anos 2010, popularização do passinho e o funk paulista
A segunda década do século XXI representou uma reviravolta no mundo do funk. O passinho, estilo de dança criado nos bailes do Rio de Janeiro que funcionava sob inspiração do ballet clássico, jazz, black e frevo, tomou conta até mesmo dos lugares mais mainstream, após ter ganho já no início da década, em 2011, um concurso chamado “batalha do passinho”, objeto de um documentário brasileiro que mostra a raíz periférica do movimento e sua importância nesse cenário.
É na década de 2010 que o funk carioca começa a perder espaço para o movimento do funk paulista, que trazia o funk ostentação como sua principal característica, até que, em 2015, com a popularização do hit “Baile de favela”, o funk paulista passou a ser o funk brasileiro mais exportado para o exterior e construiu, enfim, o cenário que temos hoje.
O bregafunk
É impossível terminar esse texto sem falarmos um pouco sobre o bregafunk. O funk não ficou restrito apenas ao eixo Rio-SP, com referências de uma batida eletrônica muito popular no nordeste, em especial no estado de Pernambuco, surgiu no meio dos anos 2010 nas favelas de Recife um movimento denominado Bregafunk.
O bregafunk mistura o eletrobrega com as batidas do funk, criando um ritmo bastante próprio e característico, difícil de ser confundido, com um passinho também bem próprio. Os maiores divulgadores desse ritmo são Biel Xcamoso e os famosos Shevchenko e Elloco.
E então, gostaram de conhecer muita coisa sobre o funk carioca?
Não esqueçam de comentar e compartilhar em suas redes sociais. Esse é mais um texto da série sobre Black Music aqui no CabeloAfro, existem mais textos como esse tratando de outros gêneros musicais e você pode ver cada um deles clicando aqui.
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